O apego emocional

Nascemos a partir de figuras parentais e, muitas vezes, constituímos o nosso núcleo familiar, para que através dos laços consangüíneos, possamos superar nossas mazelas, pois somente o amor liberta. A partir do vínculo amoroso com nossos pais e com a nossa família, podemos nos vincular melhor com as pessoas em torno de nós. Porém, essas relações quando desajustadas ou desequilibradas, podem acarretar problemas na forma como enxergamos e nos relacionamos com o mundo. Muitas carências ou privações afetivas advindas da nossa infância e adolescência, podem fazer com que na vida adulta algumas pessoas se submetam a relações insuficientes ou insatisfatórias. Em muitos casos a autoestima está comprometida.  

O ser teme perder “a fonte de amor” ou não se julga merecedor de ser amado, e com isso, acaba se submetendo a relacionamentos que geram mais sofrimento. Acaba se apegando a determinados relacionamentos pela necessidade emocional de se “ter o outro”. Pode existir neste contexto o medo da solidão, porque não aprendeu ainda a amar sua própria companhia. Existe, em outras situações, a crença distorcida de que sem aquela pessoa não conseguirá ser feliz. Nesse sentido, o apego muitas vezes é confundido com amor e  faz com que as pessoas percam a si próprias, na medida em que se submetem a determinadas situações, para simplesmente manter algo que julgam importante. Desapegar de relacionamentos que nos fazem mal, proporciona alívio e tranqüilidade, já que o apego traz um “sentido” ou “necessidade” de sempre precisar de algo.

 

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A fé pode melhorar sua saúde mental?

A fé presente há primórdios na humanidade vem sendo um dos sustentáculos para fazer com que os seres humanos possam acreditar que existe algo além do que os seus olhos alcançam. A fé, independente da religião professada, se constitui em um alicerce para tolerar as adversidades da vida, pois ela instila esperança na existência de dias melhores. Quando se tem fé acredita-se no poder do “Divino” e que tudo no universo tem um propósito. Não se trata de entender o que é Deus, pois esta compreensão permanece enigmática dada a nossa pequena evolução terrena. Digo pequena, pois ainda não aprendemos amar o nosso próximo, e o que dirá dos animais, que são abandonados e maltratados pelos seus próprios donos. Quantas pessoas ainda passam fome e são rejeitadas dentro desta sociedade em que o materialismo impera? Não aprendemos a perdoar, muito menos a ter gratidão diante de nossas cruzes. A dor existe, mas qual o sentido da nossa dor? As pessoas somente se queixam do mal estar e muitas querem uma saída mágica, como a “pílula da felicidade” comumente solicitada nos consultórios dos psiquiatras. As doenças e, principalmente as mentais existem, mas de nenhuma forma estou minimizando tais sofrimentos. Como tais precisam ser tratadas, mas como nos posicionamos frente a nossa dor, diria que é uma responsabilidade individual.

Em plena pandemia, observa-se que muitos de nós nos colocamos como vítimas, alegando não sermos merecedores de tantos sofrimentos e as orações são para que toda a dor acabe logo. Ao invés de refletimos sobre as necessidades de aperfeiçoamento pessoal, ou sobre o por quê deste caos todo instaurado, ou o que podemos fazer para mudar um pouco tudo isso, preferimos queixar e lamentar.  Diminuir o impacto disso tudo em nós, pode ser um caminho…Questões para se refletir…

A civilização moderna e todos os seus avanços tecnológicos vem se distanciando dos valores morais, éticos e de suas concepções religiosas, onde a fé é mais dita do que vivenciada. A medida que vamos ampliando nossa consciência, percebemos que os homens são responsáveis pelo que semeiam, e cada um tem seu próprio livre arbítrio.

Quando pensamos na importância da fé e da religiosidade, estudos têm avaliado o impacto disto em nossa saúde mental. Moreira-Almeida e colaboradores (2006) em uma publicação no Brazilian Journal of Psychiatry, ao realizarem uma revisão sistemática envolvendo 850 estudos publicados desde 2000, detectaram que níveis elevados de religiosidade são relacionados com indicadores de bem estar (maior satisfação na vida, felicidade, afeto positivo e elevada moral). Pessoas religiosas que professam de uma fé têm menos depressão, pensamentos de suicídio e comportamentos de uso/abuso de álcool e drogas. Isso demonstra que o comportamento religioso, com uma fé sustentada, nos dá maior capacidade de resiliência e aceitação.  Albert Einsten, já havia se pronunciado: “A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega”.

O ser humano enfrenta um monte de dificuldades e, muitas vezes, esquece de almejar objetivos mais nobres para sua existência.  A religiosidade que permite o ser perseguir a sua prática religiosa, integrando as coisas do sagrado, bem como a sua fé, que consiste na coragem de acreditar em algo não provado, fazem com que aja um limite entre o que se deve fazer ou não, acarretando, por sua vez, diminuição da falência moral dos seres humanos. Neste sentido a fé raciocinada se apresenta como instrumento que torna a existência humana mais digna, permitindo assim, a aquisição de recursos para todas as situações, onde tomadas de decisões, bem como enfrentamentos, podem ser realizados com maior clareza e calma.  Nestes momentos turbulentos, onde as incertezas e o medo imperam, se apeguem a sua fé, como bálsamo para tantos sofrimentos, onde a esperança de dias melhores se faça presente!! 

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Suicídio: estratégia para aliviar a dor?

Neste mês de setembro adentramos a campanha de prevenção do suicídio. Hoje sabemos que mais de 90 % dos casos de suicídios têm relação com algum transtorno mental, muitas vezes não diagnosticado. Em agosto de 2018 a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) registrou que cerca de 800 mil pessoas morriam por suicídio todos os anos. O suicídio de acordo com a OPAS é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.A média do Brasil em 2016 era de 5,8 suicídios por 100 mil habitantes, segundo o DATASUS

O estigma de ser portador de uma doença mental e ter que procurar um psiquiatra, ainda faz com que muitas pessoas que estão pensando, ou, que já tentaram suicídio não procurem ajuda. Ao longo dos anos trabalhando com pacientes que apresentam ideias suicidas observamos que a maioria não deseja a morte propriamente dita, mas sim o alívio do sofrimento. A dor torna-se insuportável e difícil de ser administrada, onde o suicídio parece ser a única saída.  As ideias suicidas ocorrem em sua grande maioria dentro de um contexto de depressão. O uso de substâncias como álcool e drogas concomitantes a este quadro, ou de forma isolada, podem ser os facilitadores das tentativas de suicídio. Alguns sinais servem de alerta para se suspeitar desuicídio: a pessoa expressa desejo de querer morrer; alega não ter propósito ou objetivo para viver; diz ter uma dor insuportável e oras sente-se como um peso para a família. Além disso, o indivíduo pode procurar formas ou maneiras para se matar, ou ainda abusar mais do álcool ou drogas. O fato de estar dormindo pouco, ou mesmo em isolamento social e até demonstrações de raiva ou desejo de vingança, também podem levantar suspeitas quanto à possibilidade de suicídio.

Existem trabalhos que demonstram a presença de uma vulnerabilidade genética associada ao estresse como fatores desencadeadores do suicídio. Um exemplo disso, é o que estamos vivenciando em 2020 com a pandemia do COVID,onde o Dr Sivan Mauer em sua pesquisa (2020) já evidenciou um aumento do número de casos de suicídios decorrentes da pandemia. Diante do que estamos vivenciando podemos observar fatores facilitadores para o suicídio: aumento do nível de estresse e do desemprego, necessidade de isolamento social e presença de um cenário de incertezas e dúvidas. Do ponto de vista neurobiológico, sabemos que existem diferenças na química cerebral de pacientes suicidas. Além disso, verificou-se em estudos com PET scan uma hipofunção na área do córtex pré-frontal, ventral, medial e lateral em pacientes com tentativas de suicídio. Essa hipofunção poderia justificar a baixa capacidade de regular o impulso negativo. Fica evidente que o sofrimento psíquico altera a química e a estrutura cerebral, o que ressalta a importância de tratamento médico.

A Associação Brasileira de Psiquiatria tem divulgado que a presença de: autoestima elevada; laços sociais bem estabelecidos; suporte familiar; acesso a serviços cuidados de saúde mental e presença de espiritualidade, são fatores de proteção para o suicídio. Quando se tem alguém próximo vivenciando ideias suicidas torna-se essencial que se busque ajuda para que se tenha um tratamento adequado. Dependendo da situação, o tratamento envolverá psicofármacos e psicoterapia, em outras situações, talvez seja necessário a internação psiquiátrica, para proteção do indivíduo.  Os familiares precisam ser o ponto de suporte. É preciso instilar esperança  e desenvolver a conscientização de que a dor é temporária, e que existem formas e estratégias para resolução dos mais variados problemas.

Koening e colaboradores em 2012, através da publicação do Handbook of Religion and Health observaram através da análise de 141 estudos que a religiosidade diminuiu em 75% a chance a chance de suicídio. A religiosidade que permite o desenvolvimento de uma espiritualidade, ou seja, a crença de que a morte não é o fim do ser, e ao mesmo tempo não instile culpa, ou mesmo ideias de que o sofrimento é punição divina e que sobretudo seja aliada da ciência (estimulando as pessoas a buscarem tratamento médico diante de doenças emocionais); esta espiritualidade, teria um impacto positivo na vida das pessoas.

 Quando despertamos das nossas ilusões, desenvolveremos a aceitação de tudo aquilo que não podemos mudar. A presença de resiliência em nós permitirá várias formas de enfrentamento diante das adversidades. Portanto, se você que lê este texto está sofrendo em silêncio e tendo ideias suicidas, busque ajuda psiquiátrica.  Converse sobre sua dor com os familiares e peça ajuda. Hoje temos serviços públicos que contam com profissionais especializados, como psiquiatras e psicólogos, mas se preferir existe o Centro de Valorização da Vida (CVV) que permite que você receba apoio emocional via internet (www.cvv.org.br), chat e por Skype 24 horas por dia. Se você conhece alguém que está pensando em suicídio não deixe a pessoa sozinha, tire de perto dela tudo que possa utilizar contra si (armas, de fogo, objetos cortantes, álcool, drogas), leve a pessoa para uma assistência especializada ou ligue para os canais de ajuda.

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Como nos manter saudáveis estando ainda em pandemia?

Vivemos dias turbulentos diante da pandemia que se iniciou em 2020  e o medo cresceu a níveis sobrenaturais… restando um questionamento: o que aprendemos com  quase 2 anos de pandemia? Somos todos os dias bombardeados por notícias violentas, aumento do número de mortes, corrupção, a ponto de mergulharmos em uma atmosfera de incertezas. Como podemos nos manter saudáveis e nutrirmos bons sentimentos diante deste cenário?

Nesta pandemia observamos pessoas se alienando em seus mundos, ou vivendo uma realidade peculiar que apenas é própria a uma camada social, onde o sentimento de fraternidade cedeu aos interesses pessoais. Ao mesmo tempo, observa-se a ação de pequenos grupos, que se mostram como fagulhas de luz, que mesmo diante das dificuldades disponibilizaram o seu tempo para a prática de serviços humanitários. Que bom seria se parássemos de nos queixar e lamentar, e pudéssemos ser esta fagulha de luz diante da escuridão, mesmo que fossemos uma gota no oceano.

O vazio existencial, “a perda de sentido”, ocorre quando nos afastamos do nosso propósito existencial. E por acaso alguém reflete sobre o sentido da sua existência? Então questiono: qual o sentido de estarmos vivendo neste momento? Se acharmos que merecemos outra realidade, deveríamos começar agora a construir esta nova realidade.  Façamos cada um de nós a diferença! O cultivo da esperança e da fé é algo promissor nos dias atuais, pelo menos tente! Quando mudamos o nosso padrão mental de queixas e lamúrias para entrar em contato com nosso próprio eu e entender o nosso papel no mundo, nossa vida fará mais sentido. Desenvolveremos mais aceitação e gratidão, porque sairemos da posição de vítima, para sermos autor da nossa própria história. 

O ser humano de uma maneira geral e simplista tem um hábito de se apegar nas lembranças prazerosas para diminuir o impacto do desprazer, como um mecanismo de recompensa emocional, o que muitas vezes dificulta novos direcionamentos no hoje, já que o problema, o desconforto, ou mesmo a dor, devem ser evitados e nem vivenciados. Todos nós queremos que a pandemia acabe e como isso está fora do nosso controle, só cabe para muitos a reclamação.  A verdade é que todo esse momento ressaltou as nossas vulnerabilidades, seja de lidar com a possibilidade da morte ou a incerteza de se estar vivo.  As pessoas estão saudosistas de poder andar pelas ruas sem máscaras, da liberdade de se viajar sem medo, e até mesmo daquele abraço que não pode mais ser dado aos amigos. Coisas simples, mas não valorizamos mais isso.Se o cenário é ainda desfavorável, porque ao invés de vermos tantos problemas não buscamos mais soluções? De que adianta uma mente inquieta e ruminativa sem uma ação positiva? Muitas vezes a ação positiva é apenas mudar a forma de enxergar as situações. A adversidade do momento permite lapidar a nós mesmos. Somos o nosso maior desafio! Somente através de pequenas atitudes, com base no sentimento de amor a nós e a tudo que nos cerca, podemos mudar.   Cada um é responsável pelas suas escolhas e para se manter saudável, adote hábitos saudáveis de alimentação e sono; tenha uma rotina de exercícios; medite; agradeça mais e reclame menos; aprecie e valorize as coisas boas; trabalhe; seja útil e sobretudo  tenha paciência, esperança  e fé. Tudo isso é óbvio e por que não fazemos?

 Simone Nakao Pinheiro

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Sobre as tecnologias de informação, comunicação e dependência a jogos de internet

Cada vez fica mais visível a grande quantidade de horas que as crianças e adolescentes estão sendo expostos as tecnologias virtuais. Os pais não devem deixar as crianças além do tempo necessário para a realização de tarefas virtuais.No caso de adolescentes que tem hábito de se divertir com jogos, fica a atenção dos pais quanto a escolha dos games, pois muitos jogos incitam a agressividade e até comportamentos suicidas, como por exemplo, o  jogo baleia assassina. Torna-se necessário um controle de tempo já que podemos encontrar crianças e adolescentes viciados em tecnologia passando horas na frente da tela sem fazer qualquer outra atividade.

Durante a semana, é recomendável que as atividades da escola sejam prioridades, deixando o tempo do videogame apenas para os finais de semana. Os pais devem apresentar as crianças outros tipos de passatempo, como quebra-cabeças, jogos de memória, etc. Além de serem interessantes podem estimular o raciocínio. No entanto, na prática médica, percebemos a grande dificuldade dos pais em regular este tempo, inclusive quando se trata de uma geração Z ou alfa, onde tudo se baseia em tecnologia. 

Especialistas têm relatado que o tempo de maturação do córtex pré-frontal, área cerebral responsável pelas funções cognitivas e executivas do controle dos impulsos, julgamento, atenção, inibição, tomada de decisões e de resolução de problemas não é sincrônico com o sistema límbico (área estimulada pelas emoções). Este descompasso é intensificado entre os 10-12 anos até os anos seguintes. Isso explica os comportamentos típicos dos adolescentes, como a baixa percepção do perigo, a curiosidade e a impulsividade, onde arriscam seus próprios limites, demonstrado através dos jogos, dos desafios virtuais e “selfies” em locais impróprios. Tais comportamentos passam a ser replicados e muitos se aventuram ainda mais, a ponto de aliviar o tédio, a depressão ou estresse. A internet muitas vezes serve como meio de gratificação onde os “likes” por estes comportamentos, sejam nos jogos ou redes, passam pelo sistema de recompensa, havendo liberação de dopamina, o que gera um prazer transitório. Além disso, o excesso de estímulos luminosos pelas telas diminui a produção de melatonina, acarretando diminuição da quantidade e da qualidade do sono. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua classificação internacional das doenças (CID-11) codificou como distúrbio o vício em jogos eletrônicos, assim como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5),codificou como Transtorno do Jogo pela Internet. Este transtorno é diagnosticado pelo uso persistente e recorrente da internet para envolver-se em jogos, levando a prejuízo significativo ou sofrimento por cinco (ou mais) dos seguintes sintomas em um período de 12 meses: 1. Preocupação com jogos eletrônicos, tornando-se a atividade dominante na vida diária; 2. Sintomas de abstinência quando os jogos são retirados (irritabilidade, ansiedade ou tristeza, mas  não há sinais físicos de abstinência farmacológica); 3. Necessidade de passar  cada vez mais tempo jogando; 4. Tentativas fracassadas dede controlar a participação nos jogos; 5. Perda de interesse em antigos passatempos e divertimentos; 6. Uso excessivo continuado de jogos pela internet, apesar do conhecimento dos problemas psicossociais; 7. Enganar a família, terapeutas ou outros quanto ao tempo gasto com os jogos; 8. Uso dos jogos para evitar ou aliviar o humor negativo; 9. Colocar em risco ou perder relacionamentos, emprego ou oportunidade educacional ou de carreira devido à participação em jogos pela internet.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (2019) recomenda que os pais: 

-evitem a exposição de crianças menores de 2 anos às telas de computador e/ou celular..

– estipulem um tempo em que ela fará uso dos jogos, ou vídeos, geralmente de 30 minutos até uma hora por dia para crianças de 2 a 5 anos, sempre com a supervisão dos pais/responsáveis. 

-limitem o tempo de uso das telas para no máximo duas horas diárias para crianças de 6 aos 10 anos de idade.

– estipulem um tempo de telas e jogos de videogames para 2 a 3 horas por dia para a faixa etária dos 11 aos 18 anos, evitando que fiquem trancados no quarto ou “virem a noite”. 

-desconectem as telas de 1 a 2 horas antes do horário de dormir.

– desconectem todos os aparelhos nos horários de refeição.

Devemos ter a consciência de que os limites também representam uma forma de amar os filhos e que a educação baseada em valores e princípios, é de competência exclusiva dos pais!

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