Neste mês de setembro adentramos a campanha de prevenção do suicídio. Hoje sabemos que mais de 90 % dos casos de suicídios têm relação com algum transtorno mental, muitas vezes não diagnosticado. Em agosto de 2018 a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) registrou que cerca de 800 mil pessoas morriam por suicídio todos os anos. O suicídio de acordo com a OPAS é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.A média do Brasil em 2016 era de 5,8 suicídios por 100 mil habitantes, segundo o DATASUS
O estigma de ser portador de uma doença mental e ter que procurar um psiquiatra, ainda faz com que muitas pessoas que estão pensando, ou, que já tentaram suicídio não procurem ajuda. Ao longo dos anos trabalhando com pacientes que apresentam ideias suicidas observamos que a maioria não deseja a morte propriamente dita, mas sim o alívio do sofrimento. A dor torna-se insuportável e difícil de ser administrada, onde o suicídio parece ser a única saída. As ideias suicidas ocorrem em sua grande maioria dentro de um contexto de depressão. O uso de substâncias como álcool e drogas concomitantes a este quadro, ou de forma isolada, podem ser os facilitadores das tentativas de suicídio. Alguns sinais servem de alerta para se suspeitar desuicídio: a pessoa expressa desejo de querer morrer; alega não ter propósito ou objetivo para viver; diz ter uma dor insuportável e oras sente-se como um peso para a família. Além disso, o indivíduo pode procurar formas ou maneiras para se matar, ou ainda abusar mais do álcool ou drogas. O fato de estar dormindo pouco, ou mesmo em isolamento social e até demonstrações de raiva ou desejo de vingança, também podem levantar suspeitas quanto à possibilidade de suicídio.
Existem trabalhos que demonstram a presença de uma vulnerabilidade genética associada ao estresse como fatores desencadeadores do suicídio. Um exemplo disso, é o que estamos vivenciando em 2020 com a pandemia do COVID,onde o Dr Sivan Mauer em sua pesquisa (2020) já evidenciou um aumento do número de casos de suicídios decorrentes da pandemia. Diante do que estamos vivenciando podemos observar fatores facilitadores para o suicídio: aumento do nível de estresse e do desemprego, necessidade de isolamento social e presença de um cenário de incertezas e dúvidas. Do ponto de vista neurobiológico, sabemos que existem diferenças na química cerebral de pacientes suicidas. Além disso, verificou-se em estudos com PET scan uma hipofunção na área do córtex pré-frontal, ventral, medial e lateral em pacientes com tentativas de suicídio. Essa hipofunção poderia justificar a baixa capacidade de regular o impulso negativo. Fica evidente que o sofrimento psíquico altera a química e a estrutura cerebral, o que ressalta a importância de tratamento médico.
A Associação Brasileira de Psiquiatria tem divulgado que a presença de: autoestima elevada; laços sociais bem estabelecidos; suporte familiar; acesso a serviços cuidados de saúde mental e presença de espiritualidade, são fatores de proteção para o suicídio. Quando se tem alguém próximo vivenciando ideias suicidas torna-se essencial que se busque ajuda para que se tenha um tratamento adequado. Dependendo da situação, o tratamento envolverá psicofármacos e psicoterapia, em outras situações, talvez seja necessário a internação psiquiátrica, para proteção do indivíduo. Os familiares precisam ser o ponto de suporte. É preciso instilar esperança e desenvolver a conscientização de que a dor é temporária, e que existem formas e estratégias para resolução dos mais variados problemas.
Koening e colaboradores em 2012, através da publicação do Handbook of Religion and Health observaram através da análise de 141 estudos que a religiosidade diminuiu em 75% a chance a chance de suicídio. A religiosidade que permite o desenvolvimento de uma espiritualidade, ou seja, a crença de que a morte não é o fim do ser, e ao mesmo tempo não instile culpa, ou mesmo ideias de que o sofrimento é punição divina e que sobretudo seja aliada da ciência (estimulando as pessoas a buscarem tratamento médico diante de doenças emocionais); esta espiritualidade, teria um impacto positivo na vida das pessoas.
Quando despertamos das nossas ilusões, desenvolveremos a aceitação de tudo aquilo que não podemos mudar. A presença de resiliência em nós permitirá várias formas de enfrentamento diante das adversidades. Portanto, se você que lê este texto está sofrendo em silêncio e tendo ideias suicidas, busque ajuda psiquiátrica. Converse sobre sua dor com os familiares e peça ajuda. Hoje temos serviços públicos que contam com profissionais especializados, como psiquiatras e psicólogos, mas se preferir existe o Centro de Valorização da Vida (CVV) que permite que você receba apoio emocional via internet (www.cvv.org.br), chat e por Skype 24 horas por dia. Se você conhece alguém que está pensando em suicídio não deixe a pessoa sozinha, tire de perto dela tudo que possa utilizar contra si (armas, de fogo, objetos cortantes, álcool, drogas), leve a pessoa para uma assistência especializada ou ligue para os canais de ajuda.